O cartaz do filme e os seus PONTOS FINAIS. Impressões e análise da atriz, diretora, roteirista e produtora de cinema Crys Fontana.
Indicado a TODOS os ARTISTAS. Os que vivem de arte ou os que vivem para a arte ou que necessitam da fruição da arte para viver. Idade recomendada a partir de 14 anos.
Crys Fontana esteve dia 05.10 no Cine Petra Belas Artes
em sessão fechada com o apoio do jornal O Estado de São Paulo e conferiu a participação
em conversa após a sessão do BRILHANTE jornalista e crítico Luiz Carlos Merten.
Introdução. Crys Fontana e o seu corpo
como objeto artístico:
O filme possibilita infinitas possiblidade de
leitura. Tomei a liberdade de analisar o filme pelo ponto de vista da atriz,
que tem a sua imagem e voz como matéria artística.
Em início de carreira fui modelo vivo de
joias em um museu no Japão. Ao invés de vitrines as joias foram expostas nos
corpos das modelos. As minhas mãos não foram aprovadas. As joias foram expostas
em meu colo e orelhas. Confesso que foi a sensação mais amedrontadora que
senti. Ficava dentro de um praticável onde apenas o colo e o rosto ficavam
expostos por quatro horas. A luz muito forte sobre mim e as vozes
incompreensíveis dos frequentadores da exposição ao meu redor causaram uma
sensação assustadora.
Esta vivência da “coisificação” de meu corpo,
foi determinante para que eu aguçasse o discernimento nas escolhas que faria
como atriz e modelo. Na década de 80, quando estudava na EAD/ECA/USP conheci o
trabalho da artista plástica sérvia Marina Abramovic e as suas performances
viscerais usando o seu corpo como obra exposta em Bienais pelo mundo. Em uma
performance o foco estava na reação do público e a coisificação de seu próprio
corpo. Aos 28 anos, em 1974 fez uma exposição de seu corpo e em uma mesa à
disposição do público alguns objetos: fruta, penas, flores, geleia, bebida e
também tesouras, correntes, faca, pregos e até uma arma. A intensão dela não
era morrer, mas levar as últimas consequências os limites de seu corpo físico e
mental. Foram seis horas exposta ao
público seminua. Ao final ela se levanta sangrando e começa a caminhar em
direção a plateia que correu dela. Marina concluiu que enquanto era um objeto a
plateia não via problemas éticos em agredi-la. Porém ao se levantar e aos olhos
de todos novamente se transformar em ser humano que sangrava esse comportamento
era inaceitável. Diante deste confronto só restava ao público fugir. Em 2015
pude conhecê-la pessoalmente, participei de Workshop promovido pelo SESC.
Atualmente trabalho com orientação de jovens
atores que pretendem ingressar na carreira de ator/atriz. Além das aulas do
curso livre de interpretação realizo palestras sobre a imagem nas redes sociais
e do “estigma” que este ou aquele trabalho possa macular ou até mesmo acrescentar
positivamente naquele profissional. Oriento sobre o corpo do ator/atriz que
deve ser o mais limpo de informações para que assim possa desempenhar esta ou
aquela personagem, independente da época. E que se tenha atenção com
procedimentos estéticos, tatuagens, piercing, algo que não se possa alterar
facilmente em caso de arrependimento.
Percebi muito cedo que a arte é em si um ato
político. A escolha de um texto em detrimento de outro, esta ou aquela
interpretação de uma mesma obra pressupõem um posicionamento.
Direitos humanos. As fronteiras e os limites em arte. Sei que me alonguei nesta introdução, porém a análise do filme
passa por esta minha vivência. A identificação foi imediata com a personagem
que se permitiu ser tatuado a fim de se libertar da opressão do homem que
vivencia a situação excludente do refugiado.
Outro ponto de identificação foi a direção.
Uma mulher assim como eu. Com todos os “contras” e os “corres” que
frequentemente temos que enfrentar. Quando filmava meu primeiro filme, O SEGREDO
DA GALERA, finalizado e ainda inédito, meu marido sofreu uma queda e fraturou o
fêmur. Entre um “take” e outro tive que cuidar dele. A diretora tunisiana Kaouther Ben Hania demorou 10 anos para fazer o filme. Enfrenta problemas na
sociedade tunisiana. Primeira mulher a concorrer como diretora ao Oscar de
filme estrangeiro. Um tardio reconhecimento. A direção é requintada. Uma
estética original e autoral. Enquadramentos perfeitos. Citarei quatro cenas
emblemáticas. 1. A cena no trem onde o casal é separado dentro do quadro pela
perspectiva da porta de divisória entre vagões. 2. O protagonista em cima de um
muro comtemplando as suas costas tatuadas em um banner gigantesco na fachada do
museu. Maravilhado em ver a enorme fila para assistir à exposição. 3. A cena quando
o corpo do autor vai para “restauro” por conta de uma espinha nas costas é
igualmente impressionante. 4. Por fim a cena em que ele SAM é leiloado. A
reação da plateia quando o objeto após ser leiloado desce do palco resume a
essência do filme.
Vender a pele e por extensão a “alma”. O
próprio artista que tatua a obra nas costas do protagonista Sam refere-se a
Mefistófeles. Lembrei-me do grande clássico da literatura FAUSTO de Goethe.
O que há de novo? Por que é tão instigante e por consequência
incomodativo?
Ao contrário dos meus relatos pessoais e
sobre Marina Abramovic da abertura, SAM não é modelo/artista. É um fugitivo. Um
refugiado sírio. Mais do que nunca uma realidade presente nos noticiários
atuais.
Não há como não se sensibilizar sobre os
DIREITOS HUMANOS e refletir os limites éticos da arte. Uma pessoa totalmente
vulnerável e enredada pelo mercado da arte. Foi descoberto pelo artista em uma
situação vexatória. A humilhação foi o ponto de partida para a contratação. O
corpo de um refugiado nas mãos de um renomado e bem-sucedido artista plástico,
cuja obras valem uma fortuna. Todos os ambientes e mecanismos ligados as artes
plásticas estão presentes no filme dando ainda mais veracidade ao roteiro:
galerias, vernissagens, contratos, leilões, seguro.
Vale a pena ressaltar que a diretora teve a
ideia de fazer este filme a partir de um caso real. Em 2011 um artista belga
tatua a sua obra em um corpo.
O filme é surpreendente e por vezes me
identifiquei com o ARTISTA ATIVISTA do
desenho tatuado. Ele tatuou um “visto” nas costas do refugiado. Deu até para
vislumbrar uma “boa intenção” de “Mefisto”.
Ambos, artista e obra queriam romper
fronteiras. Conseguem. O final instiga à polêmica. As vésperas de estrear meu
primeiro filme O SEGREDO DA GALERA digo que tive “inveja” da diretora Kaouther Ben Hania que conseguiu fechar a sua obra no final. É preciso MUITA
CORAGEM para fechar esta história. A minha alma foi lavada. Preciso acreditar e
vislumbrar muitos finais atualmente: o fim desta guerra mundial promovida pelo
vírus, o fim do retrocesso, o fim dos abusos contra a humanidade, o fim de
governos perversos, o fim do capital ditando as regras para a arte, enfim, O.
HOMEM. QUE VENDEU. SUA. PELE me ajudou com os seus inúmeros “PONTOS FINAIS” do
cartaz a organizar alguns FINAIS em minha vida!
Em
tempo: VÁ AO CINEMA. Me senti segura no CINE BELAS
ARTES pois todos os protocolos foram seguidos! O elenco é excelente. Mesmo os
atores coadjuvantes ou do elenco de apoio são excepcionais. Abaixo o nome do
elenco principal: Yahya Mahayni, interpreta
Sam Ali, o homem que vende a sua pele. Monica Bellucci atriz italiana interpreta
Soraya. Dea
Liane atriz francesa interpreta Abeer, o grande amor de Sam
Ali, Koen De Bouw ator belga que interpreta a personagem Jeffrey, o artista
plástico que faz a tatuagem.
Crys Fontana. Cinema:
Produziu, atuou como atriz protagonista e assistente de direção em 13 longas
metragens com a direção de Emilio Fontana dentre eles: Os Crimes da Rua
Morgue, Contos de Natal, A Princesa e a Mendiga, O Ouro do Rio Mágico. joanadarc1920rouen.com O Processo. Em 2018 dirige o seu 1º
longa-metragem em roteiro cinematográfico de sua autoria: O Segredo da
Galera filmado em 2018. Finalizado em 2020.
Aguarda reabertura dos cinemas para a estreia presencial em 2022. Trailer “O SEGREDO DA
GALERA”
https://youtu.be/UdFiYG2quj0
Os citados filmes podem ser
conferidos nos sites: www.cursoemiliofontana.com.br
WhatsApp 011 9 9571 2652
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