ABU! REI DO MUNDO DO ESPETÁCULO
Foi atuante
em todas as áreas das artes cênicas com brilho invulgar. Isso todo o mundo sabe.
O que eu sei que sua personalidade marcou um ser humano superior.
Com
imperdoável estilo escatológico, com frases duras, grossas, malditas, escondia
secretamente um homem doce, carinhoso, porém, pronto a te enfiar no bolso,
discretamente, um profundo gesto de afeto. Quando a gente se cruzava saiam
farpas, brincadeiras, mas ficaram alguns ecos em minha memória:
“Fontana
quando você vai me chamar para uma peça?”
“Quando
vamos trabalhar juntos?”
“Me convida
para dar aula no seu curso”
“Fontana,
meu amor, eu te amo!”
(acabava
tudo em gargalhada)
Mas um dia, “maktub”!
A coisa aconteceu...
Estava com o
projeto de realizar um longa sobre o processo de Joana D’Arc. Veio o nome do
Abu. Mas... junto uma dúvida, aquilo tudo que ele me dizia eram frases dele ou
da personagem? Aceitaria ser um dos juízes de Joana tendo Juca de Oliveira como
Cauchon? E as condições pobres da produção? Sim eram frases dele... aceitou sem
relutar o convite. No dia da gravação entrou no estúdio precisando de ajuda,
porém soberano, sabendo muito bem da sua majestade, mas distribuindo
escatologia a mãos cheias. Mas no momento de gravar se assistiu o brotar do
gênio. O estúdio entrou em estado de choque.
Como homem de teatro e cinema posso dizer que
pude viver esse privilégio de ter podido retratar o trabalho de um grande
artista, um artista inigualável. Um ser humano raro.
“Ói Abu, sei
que você vai estar bem, afinal de contas, te esperam nada menos do que 75 virgens”.
Emilio
Fontana Postado em 28.04.2015