O DIA EM QUE A POESIA ME BOTOU PRA CORRER
Às vezes, ao cismar
sozinho á noite, aparecem-me algumas recordações. Lembrei-me que, anos atrás,
fomos, eu e meu filho, a convite de um aluno, João, visitar a fazenda de um
amigo dele em Goiás. A fazenda do seu Altamiro ficava bem no interior, num
pequeno vilarejo chamado Xixá. Certo dia Virgilio, filho dono, nosso anfitrião,
teve a idéia de pegarmos a caminhonete para irmos visitar Goiás Velho, a antiga
capital do estado, ali perto. Um verdadeiro museu a céu aberto. Ví, envolta em
vidro a cruz que o Anhanguera plantou ali ao chegar. Virgilio, em dado momento,
teve uma idéia: “vamos visitar Dona Cora Coralina, ela está muito badalada nas
rodas literárias, a gente se conhece”. Chegamos a um sobrado bonito, com um
longo corredor lateral. Virgílio achegou-se ao portão e chamou: “Dona Cora, sou
eu o Virgílio, trouxe uns amigos de São Paulo que querem lhe conhecer!”. Lá uma
porta do fundo do corredor, talvez a da cozinha, mostrou uma cabeça de uma
senhora muito brava: “Não vou atender ninguém, vão embora, estou muito ocupada,
estou fazendo doces!”. Pois foi assim o meu encontro com essa grande figura da
literatura contemporânea brasileira. (Emilio Fontana 18.01.15)
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