O que motivou a escrita deste artigo foi o fato de uma
adolescente dizer que havia feito um curso de teatro onde havia aprendido a
“desconstruir” cenas. Perguntei sobre termos técnicos, autores e biografia, ela
porém, desconhecia toda e qualquer referência dramatúrgica.
Cursei Letras e a Escola de Arte Dramática (EAD-ECAUSP) na
década de 80 onde a reflexão sobre o “desconstrutivismo” era uma constante na
época. Presenciei uma discussão na Faculdades de Belas Artes sobre o “tal”movimento
arquitetônico denominado “Desconstrutivismo”. Discutiam sobre construções
alemãs cujas aparências imprevisíveis levavam o observador à reflexão. Este
movimento provocava “caos” visual e propunha mudanças profundas na arquitetura
pós-moderna.
Em Letras e em Teatro estudei Jacques Derrida sociólogo e
discípulo de Heidegger, Roland Barthes
Todo signo só significa na medida em que se opõe a outro signo.
Consolidou esta tese em instigante livro “A Morte do Autor”. O americano Hillis
Miller dizia que “o texto já está de certa forma desconstruído quando vamos
ler. Porque a leitura não deve ser reduzida a idolatria de autores e textos.
Todos esses autores conheciam profundamente o assunto quando
se propuseram a desconstruir. Hoje, porém “Gatti
e Cani” desconstroem! O consumo desenfreado ilude. O acesso fácil a informação
causa uma falsa impressão de cultura. Qual será a conseqüência a médio prazo
desta abordagem superficial?
7 Reflexões. 7 perguntas. Resposta? Quem se habilita?
1. A linguagem alicerça/constrói: o indivíduo desde o início
de sua existência. Hoje: a conversa eletrônica propõe um exercício diário e
constante da violação do vernáculo. Pergunta: a humanidade contemporânea (2015)
conseguirá restituir a linguagem perdida?
2. Privacidade / infância/celular: A privacidade é um
direito a cada dia mais violado. Hoje: nossas crianças estão expostas para
sempre a registros eletrônicos e a exposição inadequada a conteúdos
perniciosos. Pergunta: a humanidade conseguirá regatar infância perdida?
3. Tradição e conceitos: Alicerces teóricos estão sendo
substituídos por pesquisas superficiais. A fragilidade do excesso de informação
proposto pela sociedade de consumo oferece a falsa sensação de “cultura
instantânea”. Profissionais de todas as áreas estão sendo formados com forte
influência do imediatismo. Pergunta: que tipo de gente o consumo está colocando
no mercado?
4. Bens essenciais e bens de consumo: A esbórnia do consumo
desenfreado está dando lugar “na marra” para bens essenciais. Pergunta: O que vale
mais bens eletrônicos ou água e luz?
5. Ética e valores: Em um colapso das estruturas
capitalistas vigentes, onde os valores pessoais e as relações interpessoais
perderam o valor na sociedade contemporânea. Onde as redes sociais e os aplicativos
falsamente preenchem as necessidades de afeto. Pergunta: A sociedade contemporânea
terá subsídios para resgatar estes elos perdidos?
6. Até poucos anos atrás, ano
2000 talvez... tínhamos ainda tempo de contemplação, bate papo, álbum de
fotografia impressa no papel, telefone fixo. Poucas contas para pagar, água,
luz, telefone. Os rituais eram mantidos para “fortalecimento familiar”:
batismo, 1ª comunhão, debutante, formatura, casamento, velório, enterro... Hoje:
A sociedade contemporânea não celebra mais nada. Pergunta: Que tipo de gente
estamos criando?
7. Outro dia comentava com meu
marido Emilio Fontana sobre o futuro. Ele disse que ainda veríamos em futuro
breve esta sociedade capitalista ruir... Só não esperava que seria tão breve...Pergunta:
que tipo de sociedade estamos formando?
Por Crys Fischer Fontana (Brasil. São Paulo/SP. Março 2015)